Baús de Mim
Na estrada velha passava, boiada , seus bois, boiadeiro, tropel de dor e saudade.
Carroças, seus burros ligeiros,
a casa de barro, sapê, o chão batido de cinzas.
Ao longe se via a fumaça, fogão de lenha, o café.
Varais de roupas, a tábua, a bica, o forno , o pilão, cenário de minha infância, pinturas do coração.
Ao longe, o boi que mugia, paineira e um carroção, parado no tempo, ruído, cansado do velho estradão.
A tarde, o cenário, a serra, teatro de vida e amor, se via o sol já partindo, se pondo no monte , esplendor.
A noite caia bem cedo, na roda, à mesa , uma prosa , um chá, uns biscoitos de milho.
Sorrisos que bem se pintavam, adormecidas as almas, um aconchego de paz.
Às vezes no colo da noite, ruídos estranhos , corujas , num pau um velho urutau.
E o medo guardado às entranhas, criança de choro e façanhas.
E a madrugada acordava , com cantos de galos e um cheiro no ar, daqueles bolinhos de outrora.
Mamãe trazia à mesa o café, chaleira de chá, pão de milho.
Ouvia-se baixo, num tom bem mansinho, papai e mamãe, a se prosear.
Colchões de palhas de milho, cobertas de trapos , bonitos retalhos.
Que tempo tão bom foi aquele, queria voltar , cortando atalhos.
O sol acordava com brilho, sorrisos que nunca faltavam.
Que vida tão simples de fato, de plena ternura e amor , que pena , ficou num retrato, tão triste, o sol já se pôs.
Se o tempo pudesse voltar, deixava o mundo de hoje, pra lá, tão menino, sonhar.
Viver tudo aquilo de novo.
Na estrada velha passava....
João Francisco da Cruz