Os tempos mudaram

Os tempos mudaram

Há muito não se ouvem

dos galos o alvorada,

se foram os latidos que guarneciam

as madrugadas;

Dos olhos, por sorte, ainda

um fio de saudade escarra,

do tempo que no palco das tardes

se exibiam as cigarras;

Diz um cartaz à porta da saudade: “entrem se quiserem

ouvir trotarem os cavalos”;

Nas igrejas, emudeceram os sinos

ou castraram os badalos;

Já não exalam as noites o cheiro do querosene

em deserção à chama amarela

que no cume do pavio

se plantava em sentinela;

O jornal matutino

ao trono folheado

rendeu-se à ficção virtual

e hoje opera confinado:

O celular se tornou guardião de tudo

que se retinha ao alforje,

até a saudade, talvez, guardarão na nuvem

as crianças de hoje.

Evany, 18/07/2027