Casa dos pais

Casa dos pais

Ventou em demasia, docilidade e folhas do arvoredo, voaram tão longe.

E a mesa de madeira boa, de gaveta e saudades, debruçado sobre a tal, teu riso meigo de menino.

E entre os dedos, feiúra de cigarro e palha, bem distraído e feliz.

No canto, um sussurro de cantiga velha, desafinada voz de mãe pequena e bondade.

De um terreiro , forno à lenha, a irmã lavara em prancha e tábua, roupas surradas, roceiras.

Vinha da bica e frescor, numa moringa de barro, águas bem dóceis, o mais velho irmão, trazia.

E a doçura de encantos, poesia de tempo que esvai, não cabe neste quadro que chora.

Retratos e papéis amarelos, molduras comidas, não gozam de volta aquela magia.

Um baú e resquícios de dor, fotografias e melenas, uma turva imagem que ficou.

Estes olhos que pedem sono, almejo de retorno, inda que sejas no céu.

Deslizo em pensamento, tintas de outrora e caminho, teu sorriso tão cansado, aquele abraço de pai.

Ventou em demasia...

João Francisco da Cruz