Ruas do meu passado

Eu ando pelas ruas do meu passado

Do passado em que eu as evitava sempre que pudesse

Do passado em eu sabia mais sobre os detalhes do quintal de casa do que sobre o mapa da minha cidade

Da cidade em que eu não nasci

Da cidade que eu não pedi para viver

Que eu não pedi para estar até hoje, em que vos escrevo esses versos cheios

De saudade

Sempre cheio de uma vontade de retornar

De revisitar o que ficou

De dar bom dia e boa noite a quem já deixou esse mundo

De relembrar o que mal se lembra

De tentar completar esses quebra- cabeças de outras eras

De outros dilemas

Eu caminho nessas ruas que nunca foram minhas

Suas praças, suas calçadas...

Caminho por esse mesmo cheiro de estação seca de meio do ano

Por esse presente estéril e estranho pra mim

Sempre tão rápido

Mais frustrado que alegre

Mas sempre resiliente e esperançoso

E sempre olhando para trás

Para os dias e os momentos em que eu existi

Que vivi com toda minha alma

Nesse limbo de bananeiras, coqueiros e melancolia

E que poderia ser uma selva de prédios ou um mar de dunas

Nesse mesmo limbo muito particular e humano