Só um sono
Dormi de leve, como a rede que balança, folhas velhas, roupas antigas.
O baú sentiu se só, era só um baú, de carne e madeira, de traças e feiúra.
O colibri beijou a mão e deu um sorriso, soltou um broto novo, o pé de rosa.
Sapatos velhos são tão bons, aqueceram no inverno passado.
Toda primavera volta, e embeleza calçadas velhas.
Vi num muro o nosso nome, não morri demais.
O tempo de uma lágrima, na nuvem de um dia claro, passarei como visita.
Sorrio os dias de Sol, nas noites longas, entoarei poesias de amor.
Como sol e brilho matutino, a montanha não o impediu.
Nem as águas, fundas, tantas, nem o concreto que limita.
De tempo em tempo, a lua morre, nasce de fulgor e bem cândida.
De alma e fundo caminho, de labareda e beleza, ilumina corações tão contritos.
Durmo um sono de água rasa, um pingo de vida, desperta me.
João Francisco da Cruz