Canetinhas coloridas

Há um perfume de baunilha no ar,

recordação de calendários antigos,

nessa estação de pássaros silenciosos,

com chuvas surpresas na primavera,

embora as flores estejam a dormir,

as estrelas ainda se põem a brilhar,

da janela vejo o ir e vir dos carros,

na avenida dos sonhos e desatinos,

um sábado à noite sem festejos,

a calmaria de tempos pré juninos,

relembro de outros momentos,

de outros rostos, outras ilusões,

quando havia músicas e risos,

bilhetinhos trocados nas barracas,

fogueiras e danças até o sol surgir,

sentimentos de tolas descobertas,

sem olhares tristes no espelho,

onde escrevíamos nossos nomes,

com aquelas canetinhas coloridas,

torcendo para a maturidade esperar,

desejando mais um tempo adolescente,

mesmo sem saber as respostas da vida,

ou talvez quais perguntas fazer,

ainda éramos tão ingênuos ao devir,

expectativas não nos consumiam,

recusas não eram tão irremediáveis,

sempre haveria um "sim" mais a frente,

pois a vida sempre haveria de seguir,

trocando passos de sapateado no concreto...