O LIMIAR DA SAUDADE
(Poemas Quarentenais, XIX)
Se algum dia eu for embora,
sem nem sequer dizer adeus,
junte tudo que sobrar
de tudo que um dia foi meu
e, uma lembrança por vez,
refaça o tudo que agora é seu.
Não se pergunte o que você fêz
ou o que em mim se perdeu.
Há um adeus para nunca mais
e outros tantos adeuses
de incompleto vulto,
de sufocados ais.
E há o rastro que todos deixam:
Um quarto escuro
onde o rancor se esconde,
onde os amores se queixam.