Revirando

Quando reviro as lembranças

encontro o cheiro dos cabelos de minha mãe,

o timbre agudo da voz de minha irmã enquanto criança,

das danças sobre os pés de meu pai, domingo de manhã.

Encontro o afago de minha vó,

o jeito brejeiro da amiga a qual nunca mais vi,

encontro o doloso nó,

no vazio das tantas coisas, que crescer não me permite

mais sentir.

Lembro da alegria insana de um tio meu

que insisitia em fazer-me cócegas intermináveis,

para contentamento seu

gravava a certeza nas lembranças memoráveis.

Ah, quanta saudade das tardes vazias,

do prato de doces cheio sem culpa,

da proteção que meu avô, sem querer fazia

me isentando de todas as desculpas.