Desiderium

Encontro tua voz

Em minhas memórias mais antigas,

Das quais espreitam meus ouvidos

Numa ventania eterna:

Esses ares me carregam

Para as lembranças longínquas,

E o som agora surdo de teu grito

Me embala num sono profano.

Acordo cedo com teu cheiro,

Que me leva para o banheiro,

Onde encontro restos e roupas

Do que tu fostes.

Assim, meu espírito se esvai

Ao lado teu

E tons cinzas mancham

A claridade das almas.

A mão calejada

Some e reaparece,

Segurando-me meio bambo,

Também entramos na valsa

Destinada à eterna solidão

Da última escuridão.

E, em um piscar de olhos,

Tu fostes embora,

E levanto-me mais uma vez

Agarrada as memórias,

Que abrem o peito

E jorram descontentamento.