JANELA DOS SONHOS

O sol é apenas um borrão no horizonte;

Coroa por sobre os altaneiros verdes montes.

O trigal despede-se bailando, num vai e vem,

E os juncos quebrados, ao sopro do vento, choram a solidão que tem.

O crepúsculo desnuda as primeiras estrelas

E, pouco a pouco, tinge o céu de azul anil.

Os grilos sinfônicos harmonizam-se aos sapos no brejo,

E as pombas arrulham enquanto os vaga-lumes salpicam o ar de luz.

A lua faz sombra nos bananais,

Perfura o zinco do telhado da varanda.

Um velho na cadeira se balança de lembranças,

Um cachorro ao lado dorme e as crianças, lá dentro, também.

As trepadeiras sobem pela parede de madeira,

Água na moringa, lenha no fogão.

Os casais incendeiam-se à luz do luar,

Enquanto um mulato forte tira acordes do violão.

A paz e o amor habitam nessa casa,

De trepadeiras nas paredes e zinco na varanda.

Correm por entre os bananais, contam as estrelas primeiras,

Bailam nos trigais, dormem em esteiras.

E meu coração metropolitano de saudade suspira

Por algo que nunca viveu. E em lembranças se atira,

Debruça-se na janela dos sonhos do casebre de madeira;

Raízes de um tempo perdido em minha vida alheia.