DIAMANTINA
DIAMANTINA
A vida desenha, em mim,
um outro homem,
agora sulcado, duro, desfigurado,
impossível de ser retratado
e retocado.
...
Aquele homem que eu era
perdeu-se
em outro continente,
distante dos meus olhos,
onde meus familiares,
distantes de mim,
velam pela minha existência.
...
E estas estradas de chão,
pedregosas, estéreis,
sem o abrigo do verde
devastado pela ganância humana
- a busca por diamantes –
fere meus sentimentos.
...
Mas o vazio deste tempo
não mata a esperança,
o sonho ingênuo de liberdade.
...
Ele me fortalece
para um futuro incerto, nebuloso,
pesado:
este peso sobre os ombros
que permanecerá em nossas vidas
destroçadas pelo trabalho escravo.
NELSON MARZULLO TANGERINI
...
Poema escrito em Diamantina, MG,
em janeiro de 2001,
após ter andado descalço
pelo “Caminho dos Escravos”.
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