Poeira Vermelha

Um chão de barro,

Terra vermelha,

Como o fogo em labaredas,

Que faz arder a palha da cana,

Fumaça preta.

Há amor,

Mas não desse Romeu e Julieta,

Que carrega toda riqueza,

Levantando poeira por onde passam,

As marcas na terra,

E no ar,

Poeira levanta,

Poeira vermelha.

Acendo um cigarro e contemplo o tempo,

Arruaceiro,

Ontem eu ali,

Degustando da cana,

Que era farta no caminho,

Hoje aqui,

Sozinho,

A solidão só não é mais completa,

Porque o vício não me abandonou.

A moça,

Que transformei em sereia,

Em uma aquarela,

Não mais me espera,

Cansou-se da solidão que plantei,

Sem regar,

Flor não germinou.

Ainda há praças,

Canteiros,

Mas o menino,

Que ali frequentava,

Flertava,

Adulto virou.

Carrega a marca de tudo que não fez,

De tudo que não realizou,

E o tempo passa tão depressa,

Que até a lágrima,

Da saudade,

Secou.

Daquela cana,

Queimada,

Saboreia a pinga,

Ardente como o fogo da palha.

E a canela,

Não a têmpera apenas,

Tinge a bebida com a cor da terra,

Terra vermelha,

Respira fundo,

Buscando resquícios daquela poeira.

Mais um cigarro,

Fumaça acalenta a memória,

Que insiste,

Repetidamente,

Reviver a história,

Procuro a ampulheta,

Que Cronos quebrou.

Assim,

Caminhando ao fim.

Vazio,

Que não se preenche em mim,

Junto os cacos,

Pedaços,

Poeira,

Tentando montar,

A vida,

Com o que restou.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 02/02/2024
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