Poeira Vermelha
Um chão de barro,
Terra vermelha,
Como o fogo em labaredas,
Que faz arder a palha da cana,
Fumaça preta.
Há amor,
Mas não desse Romeu e Julieta,
Que carrega toda riqueza,
Levantando poeira por onde passam,
As marcas na terra,
E no ar,
Poeira levanta,
Poeira vermelha.
Acendo um cigarro e contemplo o tempo,
Arruaceiro,
Ontem eu ali,
Degustando da cana,
Que era farta no caminho,
Hoje aqui,
Sozinho,
A solidão só não é mais completa,
Porque o vício não me abandonou.
A moça,
Que transformei em sereia,
Em uma aquarela,
Não mais me espera,
Cansou-se da solidão que plantei,
Sem regar,
Flor não germinou.
Ainda há praças,
Canteiros,
Mas o menino,
Que ali frequentava,
Flertava,
Adulto virou.
Carrega a marca de tudo que não fez,
De tudo que não realizou,
E o tempo passa tão depressa,
Que até a lágrima,
Da saudade,
Secou.
Daquela cana,
Queimada,
Saboreia a pinga,
Ardente como o fogo da palha.
E a canela,
Não a têmpera apenas,
Tinge a bebida com a cor da terra,
Terra vermelha,
Respira fundo,
Buscando resquícios daquela poeira.
Mais um cigarro,
Fumaça acalenta a memória,
Que insiste,
Repetidamente,
Reviver a história,
Procuro a ampulheta,
Que Cronos quebrou.
Assim,
Caminhando ao fim.
Vazio,
Que não se preenche em mim,
Junto os cacos,
Pedaços,
Poeira,
Tentando montar,
A vida,
Com o que restou.