Memórias que se perdem

Inspiração pela linda música Above Chiangmai de Harold Budd

São as novas lembranças que soterram as antigas

Se um novo trauma ou um novo momento de alegria

Memórias que se perdem no longo e vazio passado

Tal como uma amiga de escola

Dos anos 90

Juliana era o seu nome

Voltávamos para a casa depois das aulas

De tarde

Naquelas tardes quentes e secas

Ela morava na rua em que passo quase todos os dias

Até o dia em que escrevo essa poesia

Ela tinha cabelos negros e escorridos

Tinha uma personalidade aprazível

E nem me lembro de quando se mudou

Sei que não nos despedimos

Que notei sua ausência quando já não morava aqui

Tão distante do espaço em que sempre vivi

Tão absorvido pelo meu próprio mundo

Desde criança

Ainda tão reativo ao mundo dos outros

Hoje, Juliana ainda é um rosto borrado para mim

Seus olhos puxados

Seus dentes grandes

Sua pele clara

Seu sorriso e sua voz

Talvez mais rouca

Não lembro em detalhes precisos

Mas como um retrato pintado pela minha mente

Talvez alterado por gotas de esquecimento

Mas ainda me lembro

Bem acima das cidades

Nos ângulos dos lados que apenas eu tenho acesso

Onde eu ainda guardo as lembranças mais tenras

Como nuvens de gelo que se quebram com o tempo

Que se modificam com o vento constante