prece à memória

estive em um cemitério noite passada

carregava comigo um maço de vela

não pretendi iluminar túmulo algum:

o fósforo não foi encontrado

noite parada, a cidade se cala

e nascem os sons despercebidos

que notamos justamente

no absoluto isolamento

pisando numa grama tão verde e macia

cujo cheiro emanava em ondas

de devoto cuidado

aliviei o pé e o peito ao sentar

nada de sereno

nem nevoeiro

a dramaticidade estava

no comum da cena

um primeiro nome que pouco era dito

não era esquecido

apenas deslocado

lembrada por seu título

não sei ser séria, não com ela

que me acolhia com riso aberto

e brincadeiras infinitas

de quem volta a ser criança

de que me serve o sofrer

se em meu curto caminho

já ouvi de um grande guia

que não se precisa de tanto choro?

em voz alta falei sobre o quanto viver,

assim como morrer,

por ironia,

é desassossego

tanto é que essa reclamação

deveria estar lhe incomodando à beça

nem no pós vida conseguia se livrar

de toda a minha conversa fiada

ri das velas inúteis em minha mão

e, por inquietação,

as enfinquei no chão

sem pedir sequer licença

não há chama,

mas há oração

prece feita não por reza

e sim por memórias

há quem olha por mim

guiando quem vou me tornar

e há por quem eu devo olhar

guiando para que não se percam

estive em um cemitério noite passada

para amá-la

e saudar as almas benditas

que não me deixam cair.

Nicoly Diniz
Enviado por Nicoly Diniz em 15/12/2023
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