só para aparecer no jornal da cidade e você lembrar de mim
deixei o desejo na cama e rodei a casa inteira me arrastando atrás de um pedaço seu
subi pelas paredes perguntando as aranhas que tecem teias para prender suas caças se elas teriam guardado alguma coisa de você
queria lembrar do seu perfume e seu cheiro
queria deitar na sua cama e no seu braço
queria sentir o cheiro do seu travesseiro e o abraço do seu beijo
ver de perto seus olhos me olharem de volta
queria ter tesão pela vida que teríamos juntos
as aranhas me respondem que estou iludido
que estou preso a uma teia imaginária onde acho que existia amor
violentamente destrua todas as teias, destruo suas construções e casas, com força arranco delas qualquer sentido bom, devoro suas presas e as deixo com fome
não quero passar fome sozinho
vou para a cozinha, encaro o armário vazio, na geladeira uma última taça de vinho um queijo mofado e uma banana solitária
sobre o fogão o cinzeiro com uma bituca
ligo o gás, bebo o vinho e vou fumar na sala riscando o fósforo várias vezes até que consiga incendiar minha cama onde deita o meu desejo