Fática Poesia

Eu quando era moço tecia uns versos açucarados

Com meus dedos em sustenidos violados

Em ponteios carregados de emoções

Moço, eu era moço e tocava os corações.

Dedilhava poemas aclamados em forma de panteão

Deusas finitas enluaradas se quedavam pelas calçadas

Tropeçavam em rimas adocicadas de terna paixão

Moço, eu era moço para toda ocasião.

Hoje seu moço, me demoro no adorno dos meus emperros

Um reverso marcado nas rugas de um velho espelho

Eu até rimo o som de um ferrolho enferrujado

Com a patela de um joelho meio escangalhado.

Mas seu moço, eu era um moço bem aprumado

E o meu verso era como a obra de um tecelão.

Moço, hoje não.

Hoje o tempo que vigora tem como musa essa dor senhora

Cujo mote é dor no espinhaço, é a rima lerda do cançaso.

Nem de longe, com os olhos embaçados de nostalgia

Lembra os versos dos folguedos da alegria que eram a minha guia.

Então moço, se no meu discurso não encontraste simpatia

Me desculpe a pobre rima sem alegria.

Suspeito ser ela ainda mouca por aptidão

Que se despede da minha poesia fática, mas sem inspiração.

Lagoa da Prata – MG

15-Nov-23

Ademar Siqueira
Enviado por Ademar Siqueira em 15/11/2023
Código do texto: T7932727
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