A DOR QUE DO POETA AGASALHA ALMA ( ITABUNA , 14 DE MAI0 79)
Belo e triste, comovente e lírico,
Os versos batem à porta
De um coração que chora
Na aurora da saudade.
Num instante,
Em solidariedade
À dor do vate, o vento geme,
Balançando as galhas da roseira
Que também chora,
De lamento freme.
Procura pelos cantos,
Chorando tanto,
Peito oprimido,
Coração magoado
A jasmineira
O amado teto;
Chora a perda da sua dona,
Que de repente,
A abandona.
Pendida do jardim,
A dália, a flor
Que ela mais adorava;
No galho,
Molhado pelo orvalho,
O sabiá emudece,
E entristece
Tudo ao seu redor, é que a dor
Lhe invade a alma
Por não mais vir
Aquela que tanto amava
E que lhe dedicava afeto !
A bananeira soluça tanto,
E seu dolente canto
Rola qual cachoeira
Na correnteza da emoção.
Quem mais chora, entretanto,
Nesta quadra da vida,
Alma ferida,
E na face sente
A lágrima quente,
E se desespera porque até
A natureza
De tristeza emudece,
É o bardo, que sozinho,
Merancório e triste,
Não mais assiste
Ao sorriso franco do abacateiro
Que em carícia expressava
0 ano inteiro
O seu carinho,
E pelas manhãs festeiro
O cumprimentava!
Os arvoredos,
Tremendo a medo,
Peito ferido,
De tristeza choram
Na verde mata!...
E os pássaros
Que faziam festa,
Matinal orquestra
Derredor do Jardim de Inverno
Entam agora,
O seu triste canto
Enquanto o bardo chora:
Adeus, Safira!
Adeus, anelos
Dos dias tão belos
Que me alentavam
Quando a vida era -me uma mar
De rosas em momentos ternos
Que no coração
Se faziam eternos
E se foram assim,
Num tenebroso inverno.
Adeus, meus sonhos
Na aurora
Da saudade
Que de mim
Não se retira!
Se foi como a brisa
Que dos céus desliza,
Chega de repente,
E rapidamente
Se vai embora.
Se foi ingrata! -
Lamenta o bardo,
Coração partido!
Dominado pelo sofrimento,
O vate entoa seu tormento:
Canta aflito,
A derramar seu pranto,
De dor um grito
Na noite silente,
Ferido o peito e a alma seus:
Quisera que meus
Versos suavizassem agora ,
A dor pungente
Que em mim vigora!...
Se sorrio -- meu riso é falso;
Se canto -- minh'alma chora.
Adeus, Safira!
Se foi embora,
Sem me dizer adeus!