Saudade
Sinto saudade do que fui, do que quis ser e do que não sou mais.
Saudade do cheiro da uva colhida no pé que remete à um tempo que não volta mais; do cheiro de terra molhada, de sentar na calçada e conversar até escurecer sem medo do que pudesse acontecer, sem querer crescer; da comunhão em família, dos momentos de sintonia onde nada ao redor importava e só de estar ali já bastava para ser feliz; do palpitar do coração quando a ansiedade de um encontro importante me transbordava de emoção.
Saudade dos momentos lá de trás que só a lembrança refaz.
Sinto saudades, daquelas que apertam o peito e choram o olhar, saudade de tudo o que deixei levar para me tornar quem ou o que nem eu sei se há.
Sinto saudade, mas não sinto falta porque sei que tudo que me aperta o peito teve seu desfecho merecido e que estou no caminho certo para seguir meu caminho e não sentir mais saudade de mim.
A saudade que sinto só faz sentido por mostrar a mim de onde vim e tudo que passei para chegar onde cheguei, valorizando cada momento em que me entreguei, certos ou errados, inocentes ou culpados, mas todos responsáveis por me tornar o que e quem me tornei e que ainda serei.