lá fora
Lá fora
em plena madrugada
o finito dia morto jaz na calçada.
Estirado,
Exausto.
Lá fora,
sob o foco solar do poste
Há um bando de insetos bailando
a procura de sangue e carne fresca
Lá fora
Tudo parece binário,
Primário
Absurdamente previsível
Mas não é...
Num só golpe de machado
o sândalo decepado ainda perfuma a cena
Lá fora
Imolados seres escrevem
heroísmos bastardos
Pobres mortais, decadentes!
Aqueles que nos revelam suas fraquezas,
Seus medos,
Seus mais absolutos enganos
Curam-se da dor de desamar
Do ódio secreto e cotidiano
A jurar mortes,
a tramar assassinatos,
a esculpir delicadamente
veias encravadas de veneno.
E ao perdoar, escolhem
flores para enfeitar velórios
Lá fora, em algum lugar
à essa hora
Haverá um poeta
Gemendo seu lirismo,
Seu destino desenhado por rimas
Ganindo por dores e instintos
Haverá um riso incerto para
Tragédias repetidas
Passam lá fora,
os pássaros
os transeuntes solitários,
os cães sem dono,
os meninos de rua
sem rua, sem nome e
sem futuro.
Lá fora, passam coisas
silenciosamente
que se eternizam na perdição dos tempos.