lá fora

Lá fora

em plena madrugada

o finito dia morto jaz na calçada.

Estirado,

Exausto.

Lá fora,

sob o foco solar do poste

Há um bando de insetos bailando

a procura de sangue e carne fresca

Lá fora

Tudo parece binário,

Primário

Absurdamente previsível

Mas não é...

Num só golpe de machado

o sândalo decepado ainda perfuma a cena

Lá fora

Imolados seres escrevem

heroísmos bastardos

Pobres mortais, decadentes!

Aqueles que nos revelam suas fraquezas,

Seus medos,

Seus mais absolutos enganos

Curam-se da dor de desamar

Do ódio secreto e cotidiano

A jurar mortes,

a tramar assassinatos,

a esculpir delicadamente

veias encravadas de veneno.

E ao perdoar, escolhem

flores para enfeitar velórios

Lá fora, em algum lugar

à essa hora

Haverá um poeta

Gemendo seu lirismo,

Seu destino desenhado por rimas

Ganindo por dores e instintos

Haverá um riso incerto para

Tragédias repetidas

Passam lá fora,

os pássaros

os transeuntes solitários,

os cães sem dono,

os meninos de rua

sem rua, sem nome e

sem futuro.

Lá fora, passam coisas

silenciosamente

que se eternizam na perdição dos tempos.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/12/2007
Código do texto: T784121
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