Rubi
Todas as manhãs, eras tu que acordava
com aquele jeito doce e angelical.
Da janela, eu via tua felicidade estampada
nos corredores de casa.
Eras tu que saias pelas manhãs,
dizia-me um até logo feliz por mais um dia.
Eras tu que descias as escaladas,
a dizer a si mesmo que voltarias.
Tu caminhavas pelas ruas
com uma bolsa em um dos ombros,
um fone de ouvido, a caminhar
entre asfalto, terra e paralelepípedos.
Vias a praia de longe, tua emoção.
Subias a ladeira no Rosário,
em direção as camélias,
tuas flores favoritas da primavera.
A cantarolar as melhores notas,
chegavas no som mais alto de tua voz,
anunciavas a tua chegada ao mundo e
dizias o quanto amava estar ali.
Entre todos os ponteiros do relógio,
tu fazias-te entre sorrisos,
brincadeiras e momentos eternos.
Tu tinhas o tempo para isso.
No badalar das dezoito,
caminhavas duas ruas,
chegavas no destino
era o mesmo sorriso da manhã.
Recebias uma mensagem da irmã,
a perguntar-te por onde andavas,
fugias com ela para as prateleiras
do supermercado mais próximo.
Riam-se das histórias mais absurdas,
dos contos de bem-dizer e maldizer.
Horas contadas no dedo ou nas moedas
dos bolsos daquelas comidinhas.
A noite ainda contaria
com mais prosas e poemas
escritos em mesas, notas de celular
e uma análise para chamar de nosso.
No ponteiro das dez, despede-se
da irmã e assim vai acompanhado
para não voltar só com Lua
das terças-feiras.
Olha as camélias ao redor,
troca o asfalto pelos paralelepípedos,
desce o Rosário e volta ao asfalto,
para fazer pequenas curvas.
Eu já fui dormir com Deus,
mas ouvia a batida do portão,
eras tu a voltar mais um dia.
Ouvia teus pés nas escadas.
Abria a porta, colocava tuas coisas,
andava pelo corredor com medo
de fazer barulho, mas era impossível
não perceber que eras tu ali.
Via-te escondida da janela,
feliz pela tua chegada em casa.
Durma em paz, amanhã tem mais.
Mas foi a última vez que vi aquele Rubi.