A FLOR DAS CAMPINAS
Quantas vezes o Sol se levantou?
Quantas vezes a luz dele se apagou,
Esperando o dia de você germinar?
Quantas fadigas existiram no meu jardim?
Quantos choros escorreram sem fim,
Solitários, nos vazios deste lar?
Quando achei essa Flor ainda em semente
Buscava com ela alegrar-me docemente
E com tal linda o meu Coração se perfumou!
A semente que na terra se enterrou
Em seu efeito logo prosperou
E venceu do meu Coração todos os ferrolhos!
As estrelas no céu bem cintilavam...
E, com fervor, todos neste agreste já falavam
Dessa semente que brotava com vigor!
Por ti, ó Flor, minha alma suspirou
Quando meu Coração as tuas raízes abraçou
Como o Éden, que abraçou a Primeira Flor!
Passeava eu por estas bandas bem garboso
E para os amigos olhava orgulhoso
Pelo brotinho de flor que me germinou!
E agora tanto, tanto lamento...
Meu Deus, por que tanto sofrimento,
Nos recônditos vazios de meu lar?
O que é aquilo vindo contra esta sorte?
O que vem ligeiro com o sabor da morte,
Com violência contra a minha agreste Flor?
Nunca vi uma ventania assim tão forte!...
Um tufão que veio a mim rumado ao norte,
Varrendo flores, varrendo sonhos e esperanças!
Será que do gelado vento consigo me lembrar?...
Será que consigo adequadamente me perdoar
E consolar um Coração dilacerado?!
Achei que cuidava de ti como um pastor
Que não esmorece de nas ovelhas pôr
Seus meigos e cuidadosos olhos!...
Era bem jovem... e não tive o máximo cuidado
Com um brotinho tão nobre e delicado...
Que vento forte do meu Coração te arrancou!
Ó linda Flor das campinas,
Te igualas a especiarias, as mais finas,
Pelas quais cada português no mar se arriscou!
Exalavas teu aroma doce e leve
Mesmo sendo por tempo muito breve,
Mesmo sendo frágil e tão pequena!
Meu coração dançava ritmado por esse odor
E arrebatado levemente por tal sabor
Dançava num ritmo vaporoso que enlouquece!
E contente nos vapores dessa essência,
Alucinado no meio da existência,
Meu Coração com tal fragrância se viciou!
Ah!, quem diria nesses saudosos dias
Que sorveria nesta Iguaçu uma Euphoria,
Uma Euphoria que exalava dessa Flor!
Hoje a Saudade, esgueirando-se, me acena
E me condena, numa crueldade tão horrenda:
– “Não a trataste como uma flor merece!...
Não a regaste com palavras, as mais bonitas;
Também não a adubaste com vaidades infinitas;
Não a protegeste com uma redoma de amor!”
A saudade ganha, enfim, tamanha cor
– Desencantos de um jovem agricultor –
Que supera a dor do Fantasma Espartano!
Tantas vezes o Sol se levantou;
Tantas vezes a luz dele se apagou,
E as estrelas por ela expectaram em vão!
Nunca mais te verei formosa e agreste,
Debaixo deste imenso azul-celeste,
Na agreste campina deste queixoso Coração!