O espelho de agostos passados.

Eu me olho no espelho

Refletido pela luz da velha porta

Impregnado e morto

Nos olhos do poeta que não mais existe

Eu me molho na chuva

Refletida na luz da janela

Aquela, que se abria em agosto

Nos dias de agostos passados

Me despeço, me peço um abraço

Pergunto por que foi que me deixou partir

Por que foi que não passaste a velha porta

E guardaste a criança que eu era

Refletida na luz da janela

Que se fecha em agosto

Me pergunto por que não se vai

Nem me deixa partir

Que se queixa em meus sonhos

Por eu ter partido

É que o tempo corre noutra direção

Quando se sonha

Depressa como uma flecha

E passa pela porta que nunca envelhece

E voa pela janela que nunca se fecha

De um agosto que não se acaba

O poeta que me busca e não se acha

À luz que meus olhos ofusca

No espelho que não te reflete.

Edson Ricardo Paiva.