Ondas
A saudade é como uma onda.
As vezes vem calma, serena.
Arrepia a pele, como a água gelada quando toca nossos pés, mas ao mesmo tempo, refresca nosso corpo!
No caso, a saudade refresca nossas memórias.
Outras vezes, ela vem forte, traiçoeira, e se você não souber nadar, ela vai te puxar para o fundo.
Você não vai conseguir ter controle sobre o seu corpo, vai se afogando, sentindo seus pulmões arderem com a água, dificultando sua respiração, até estar entregue, boiando pela imensidão do mar.
Se você tiver sorte, alguém vai te encontrar a tempo e te resgatar. Vai te levar de volta pra areia, cuidar de você e te deixar em casa, num lugar seguro e quentinho.
Quando a saudade vem forte, a sensação é quase a mesma. Ela vai te arrastando para o lugar mais fundo da sua alma, nas mais profundas lembranças. Você vai se deixando levar e quando se der conta, já está se afogando em lágrimas. Sua garganta fecha, seu peito dói, você tenta se agarrar ao presente, mas seu corpo já não te obedece mais. Você está no fundo, num lugar frio e escuro. É horrível e quando alguém finalmente te encontra, já é quase tarde demais.
O resgate da alma é muito mais difícil do que o resgate de um corpo na água. E quando acontece, tudo está dolorido, seus olhos ainda estão turvos, sua respiração entrecortada. Aquele lugar seguro, não existe. A sua "casa" não está ali para te proteger das ondas, das tempestades, do perigo. Sua "casa" se tornou saudade. Sua "casa" está num lugar distante, onde você ainda não consegue chegar.
Por isso, você se fecha no seu casulo. Fica ali, sozinha, até olhar pela frestinha e perceber que já consegue sair de novo...então você vai. Pisa na areia com medo, vai andando na direção da água, molha os pés, se diverte um pouco, sorri para as pessoas à sua volta, canta e dá piruetas na água... e aí vem outra onda, te puxa pro fundo, você perde o controle...e resto você já sabe!
Todo o ciclo se repete!