Tempos de suspiros e de ternuras
Aquela casa bonita, antiga,
de varanda e com um jardim requintado
eu queria ter
eu queria estar nessa casa,
lendo um bom livro a sombra da tarde
nessa varanda dos anos cinquenta.
Portas e janelas de jacarandá,
assoalho de madeira envernizada
firme e forte como tudo era feito
construído nos tempos da originalidade.
Ouvindo na radiola o disco novo de Vinícius,
lendo o livro saído novinho da gráfica de Drummond,
degustando os bolinhos de chuva da vovó Jajá,
vestindo a bermuda que minha mãe Minã, costurou.
ganhando ingressos do matinê no cinema
na rua principal duma cidade prazerosa,
onde habitavam generosos seres humanos
e generosos visionários da paz.
Um muro baixo, uma grama verde,
a escolinha da tia Margarida,
o ABECÊ cantado de có e salteado,
em minhas mãos na linda varanda de casa
um livro de poesias na qual eu lia com doçura
ao meu amor terno e sensível que suspirava,
era os tempos dos suspiros e das ternuras,
eram os tempos de algumas verdades e imensos sonhos.