Versos de saudade

Lembra quando te falei pra não ir embora?

Você me dizia que não existia limites pra sua vida

Quantos anos você tinha? Talvez vinte, ou um pouco mais

Claro que eu falava assim, mas você tinha tanta exuberância

Que desperdício seria se você ficasse parada naquela cidadezinha

Deixar o tempo passar sem fazer nada não era sua cara

Quem era eu pra te dar conselhos?

Eu que vivia a rabiscar versos incoerentes no velho caderno de arame

Estava me preparando para ver você partir

Mesmo não sabendo para onde você poderia ir

Mas você se foi

Te imaginava pelos caminhos de terras empoeiradas

Achava mesmo que você era uma indefesa para as ciladas da vida

Eu nunca soube por onde você andava

Por certo estaria nas frias sarjetas de umas dessas cidades grandes

Ouvindo sobras de músicas que vinham dos bares

Quem sabe mendigando afagos dos que ficavam perdidos pela noite

Eu não fiz força para não te deixar partir

Me acovardei nas pobres rimas que insistiam em sair do meu lápis

Preferi ficar sentindo o cheirinho que vinha do estojo que me protegia

Me fiz sonhador nas histórias de amor que inventava

Que pressa danada você tinha para vasculhar o mundo

Onde andará você agora, fale pra mim

Torço mesmo para que você não chegue ao fim do caminho

Gostaria que você perdesse essa perseverança ferrenha

Quem sabe você não se arrependesse na metade do caminho

Ainda vivo na ilusão da sua volta, mas sabia que amar também é deixar ir.