O nome da minha avó
Desde que eu nasci
minha vó dizia
que estava perto de morrer.
Que a diabete estava desregulada
ou que estava ficando cega.
Eu fui crescendo
e crescendo junto foi
a minha ânsia pela morte.
Eu não entendia o motivo
disso acontecer comigo.
Não havia gatilho algum.
Até que um dia eu percebi
que eu levava no meu nome
o nome da minha avó.
E com ele todas suas dores.
Minha vó partiu
quando eu já passava dos trinta anos.
Mas em mim ficou sua memória ancestral.
Suas sombras e suas luzes.
Seus amores e desprazeres.
Sua plenitude.
Eu aprendi com minha vó
a ressignificar
esse desgosto pela vida.
E então desprezar a morte
assim como quem despreza
o que não lhe satisfaz.