NO APAGAR DAS LUZES

Wanda Cunha

Descubro saudades, assim, pelos cantos da casa, debaixo da cama, dentro da geladeira, na gaveta do criado-mudo; há saudades no banheiro, dentro do guarda-roupa, atrás da porta, na água que cai do chuveiro. Há saudades velhas, fora da validade, na despensa, nas paredes, no forno do fogão, debaixo do tapete, restos que ficaram na panela de pressão.

Dentro de mim, então, há lembranças doces, amargas, salgadas, mal passadas, rançosas, rancorosas. Há lembranças até esquecidas que nunca mais foram usadas.

Dentro de ti, talvez, tu mesmo, dentro da tua bolha, na folha só do teu papel principal, no tempo contínuo de quem se sente o tal com o passado que é o mesmo presente e será o mesmo futuro; porque te amas tanto e te amas tão pouco que hoje estás sozinho e ainda assim pensas que ainda estamos juntos. Dentro de ti o flagelo de quem não soube amar nem ser amado e que ainda hoje insiste em brincar de antigamente quando eu, também adolescente, pensei viver um grande amor pra lá do além.i

Saudades, lembranças, e os dois.... Hora de dizer adeus e amém!.