Maria-Fumaça
Olho para as janelas de tua casa
Esperando ansioso que teu olhar cruze com o meu,
pelo menos mais uma vez
E você me olha como um caçador avista a caça na alça de mira
E depois atira
Corda bamba sobre abismo, névoa de nada enxergar
Se a pantera vai aceitar carinho ou vai rosnar e te atacar
Dúvida, silêncio, incerteza; procurei por amor e carinho
mas só encontrei beleza
Beleza fria de rimas que se repetem num caleidoscópio de brumas
e tempo deseperdiçado em que te escondes por detrás
do detrás do detrás
Da imagem que você mesma faz
E deixa o holograma cheio de filtros na ribalta
Mas só eu percebo seu vulto, sinto sua falta
E noto seu verdadeiro eu fugindo para coxia
Não sei se vi, acho que vi, bem-te-via
Como um relâmpago, um vaga-lume dentro de um túnel
Onde meu vago vagão de trem passou;
Trem que em nenhuma estação parou.
Partiu choramingando suas ferrugens,
Gemendo a claudicante solidão de décadas
Esperançoso de na próxima estação
Vê-la, desta vez inteira,
embarcar...