Maria-Fumaça

Olho para as janelas de tua casa

Esperando ansioso que teu olhar cruze com o meu,

pelo menos mais uma vez

E você me olha como um caçador avista a caça na alça de mira

E depois atira

Corda bamba sobre abismo, névoa de nada enxergar

Se a pantera vai aceitar carinho ou vai rosnar e te atacar

Dúvida, silêncio, incerteza; procurei por amor e carinho

mas só encontrei beleza

Beleza fria de rimas que se repetem num caleidoscópio de brumas

e tempo deseperdiçado em que te escondes por detrás

do detrás do detrás

Da imagem que você mesma faz

E deixa o holograma cheio de filtros na ribalta

Mas só eu percebo seu vulto, sinto sua falta

E noto seu verdadeiro eu fugindo para coxia

Não sei se vi, acho que vi, bem-te-via

Como um relâmpago, um vaga-lume dentro de um túnel

Onde meu vago vagão de trem passou;

Trem que em nenhuma estação parou.

Partiu choramingando suas ferrugens,

Gemendo a claudicante solidão de décadas

Esperançoso de na próxima estação

Vê-la, desta vez inteira,

embarcar...

Dark n Blue
Enviado por Dark n Blue em 28/09/2022
Reeditado em 23/07/2023
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