Saudade
A saudade nunca é oblíqua
ela é sempre direta
não faz veredas
vai na veia
sangra a rocha
a pétala
não deixa sobras
e se deixar
a madrugada se encarrega
de sepultar na dor o poeta
como mesmo fizera
a chama da lua é vela
mas que a aurora
logo a enterra
aurora vindoura d'uma nova esperança, era,
como aquela que se acreditara, outrora
conseguir na América
para quem semeou um dia outono
para colher noutro
que não sabemos qual, primavera
mas e o poeta?
só o poema dele a nos agora resta
nem o seu fumo de canela
ou o vinho do porto
que viera dançando
pelo a-mar com as caravelas
só mesmo os versos ali
instaurados na página amarela
que ele já não mais os verseja
e nem mesmo pudera
pois a saudade a todos leva.