NA MURETA DO TEMPO
às vezes te vejo a me olhar
a carinhosamente me olhar
da mureta do tempo
teus olhos pregados em mim
como noutros tempos
aqueles em que tanto conversávamos
e ríamos
e falávamos do existir
do chegar
do partir
uma teria que ir antes
e dizias
que seja eu
nunca quero ver um filho meu partir
antes de mim
mãe, a vida é eterna
e não estás presencialmente aqui
não estás fisicamente aqui
mas teu espírito milenar
vive
e temos encontros
dentro de sonhos
quantas vezes estou escrevendo e fecho
os olhos e revejo momentos
momentos
em que eu estava escrevendo
e de mansinho te instalavas ao meu lado
e perguntavas
estou atrapalhando?
eu dizia
claro que não
mãe, que vontade de beijar tua mão!
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