Roubo poético

Vou roubar-lhe algumas horas.

Para tê-lo só para mim.

Em silêncio.

Com seu olhar contemplativo.

E, o infinito deitado no horizonte

dormia sobre reticências.

 

Vou roubar-lhe algumas horas.

Para guardá-lo em um relicário.

Como uma medalha benta.

Como uma divindade

de expressão enigmática.

 

Queria contemplá-lo

A sua beleza.

O seu corpo.

E, a sua alma difusa.

Seu lépido espírito

a escorrer pelos ventos.

A bradar coragem.

E, a inspirar miragens

em pleno amanhecer.

 

Vou roubar-lhe alguns escritos seus.

Sua caligrafia bonita e desenhada.

A exalar o perfume de lavanda.

Seus dedos compridos, como

de um pianista.

Mas, você era poeta.

E, eu sem vocação para ser musa.

 

Mas, você era tanto

E, eu tão pouco.

A vastidão ao lado da iniquidade.

 

A revoada de pássaros.

O vento frio.

E, a tarde desceu sangrando.

Pela vida que se esvaiu.

 

O trampolim da dúvida.

A ironia do conhecimento.

E, a tristeza que aborta a culpa

E, vive apenas de responsabilidades.

 

A violência do tempo.

Que nos envelhece até matar.

Vou roubar-lhe algumas horas.

Para dirimir toda eternidade.

 

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/08/2022
Código do texto: T7593995
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