Nesse instante
Vi a sombra dela
A preencher as acomodações dos meus olhos.
Ouvi o apito da fábrica
Anunciando as dozes badaladas do instante do almoço.
Senti o olor do seu perfume a contaminar meu ar,
Delimitando sua existência em meu ser.
Ouvi da janela o sorveteiro a vozear
Anunciando o saboroso sorvete de côco.
Vi a mulher em vestes de renda pela ladeira
A mover-se faceira,
E pela ladeira corri até meus pés
Sentirem grande canseira.
É esse o instante
Por onde meus olhos esculpem
Do universo de minha mente os sons,
Os cheiros,
Os paladares assistidos nas janelas do meu lar.
Nesse instante do agora
É sepultado o talvez e condensado
Em todas as minhas lembranças
Os acontecimentos vividos
Em anos decorridos
De satisfação extrema,
E hoje de saudades plena.