TRAJETÓRIA
Não há noite, amanhecer ou entardecer
O dia de hoje foge entre meus dedos trêmulos
Amargas são cada segundo de suas horas eternas
O ar dessa manhã insólita queima minhas narinas abertas
Nó peculiar em minha garganta, cala em grito contrito
O coração busca fugir do peito vazio
A solidão se instala perpetuamente
Parece alucinação de olhos abertos
Estendi os braços sobre horizonte
Mais nada me apraz, doravante perdido
Em deserto denominado saudade
Em amplidão entre quatro paredes
As vibrações mexem com minhas sinapses
Pelo córtex escorre ausência nua
Meus olhos buscam imagem tua
Nada faz sentido, senão o sentido de tudo que perdeu o norte
Se materializa em vazio abissal
Que por horas habita em nós
Como rio que não deságua no mar
Como lágrimas que não enchem medidas
Como dia de todas as partidas
Como primavera sem margaridas
Como um verão que o sol não brilha
Como pássaro que perdeu a o ninho em noite de tormenta
Como céus sem constelação
Como o cosmos em rota de colisão
Como o fim posterior de nossa história
Interrompida prematuramente em sua trajetória
Com dez anos, amarga memória
Então, meu refúgio para onde fujo
Deito-me em sua cama
Olhos serrados
Enquanto o teto esmaga meu peito
Meus braços pendem para o infinito
Aflito o coração transborda de você
Rio, 31/07/2022, para meu Filho Jay