À MEIA-LUZ
lisieux
No meu gueto interior
te reencontro.
Mesmos olhos e sorriso,
mesmo tique nervoso
de morder os lábios,
e passar os dedos
nos cabelos.
Mesma voz de barítono
e as mãos macias
de pianista, padre,
ainda com o mesmo toque
leve,
asas.
No meu gueto interior
te reencontro.
E apesar de inda seres aquele guri
quase eu não te reconheço.
Porque ali no fundo
dos teus olhos claros
densa névoa
faz separação
de mim.
No meu gueto interior
te reencontro.
E tenho uma vontade enorme
de acender a luz
e de trazer-te à tona,
de dizer-te palavras de balada,
de abraçar-te com braços
de acalanto,
de te envolver
com meu sorriso
e pranto.
No gueto interior, porém, a névoa
cala-me a voz,
impede-me os gestos...
Então te deixo, amado,
ali no gueto.
Debaixo de um poste,
luz tão fraca,
sombra noturna,
estranho personagem...
Companheiro etéreo
e eterno
de viagem.
BH - 18.02.05