Um perfil solitário
Seu perfil percorre esses corredores,
solitários corredores na minha memória,
cheio de contornos nessas paredes úmidas.
Em cada errante passo, há angústias nessa casa.
Lá fora um desespero incongruente, dissimulado,
entoando uma canção, entre tantas sinfonias,
canção penetrante nessa casa sem emoções.
Soa vago esse distanciamento de nossos olhares.
Meus pensamentos assaltam-me entre pesadelos,
entre sua partida e chegada, reconsidero minha vida.
Entre os deleites de outrora e essa escuridão existencial,
dissemina minhas incertezas nesse novo encontro.
Amanhece nessa casa, diluindo meus delírios aflitos,
enternecendo minhas esperanças nessa sua volta,
transbordando lassidão nessa manhã de meus sentidos.
É o que fica nessa confusão dos meus sentimentos.
Meu perfil caminha nessa casa triste, sobressaltada,
acolhendo seu regaço de mulher arfante, desejada.
Nessa lânguida manhã, entre filetes de sol nascentes,
desfaço dúvidas, excitando-me com seus toques.
Já não há mais essa dissonância se derramando,
essa sombra nos beijos desamparados a princípio.
Já não há os desatinos nesses corredores áridos!
Só conivência dos nossos corpos, nessa entrega!
Seu perfil caminha pela casa dos corações errantes!
Dançam esses corpos frágeis, entre sussurros tristes.
Embriagados, revelam concedidas cumplicidades,
ousando despedidas, atormentados nesse ar tristonho.