duelo
esse duelo frio
de palavras ponteagudas,
farpas parafraseadas com ironia
silêncio estrategicamente colocado
para incomodar,
desagradar e
destabilizar
é como um degrau oculto na
rampa, por detrás da escada
sempre a nos propiciar o tombo,
esse duelo desonesto
do opressor e sua vítima
do verdugo e seu prisioneiro
essa flâmula a acenar o caos,
e apontar a direção do vento
e a perdição do infinito
esse duelo pérfido e vazio
de sentimento oco e bastardo
de frustração e engano
quantos enganos,
quantos desencontros
nas encruzilhadas do caminho
sua vaidade é o viés do ridículo
e, é ainda mais ridícula
por lhe cair cafajestavelmente bem.
rancor contido na ponta de sabre
a rasgar a roupa, a romper o véu
e vai buscar no fundo da carne
a amálgama de tudo
a causa fundadora de tudo
a raiz da erva daninha
deste duelo
restou a respiração ofegante
a grande indiferença ao cair da tarde
algumas doses de gim e tônica
a fonética frouxa de monossílabos
insólitos e
evasivos...
no fim do duelo
não honra e nem glória
não há heróis ou vencidos
não há vilões ou corcundas
que debruçados no alto da torre
descobrem a furtiva beleza
de uma cigana.
esse duelo mata os dois,
mata o tempo e o espaço,
arde a chama quente que vai lentamente
apagando da memória a vontade de viver