ACESSO À SAUDADE
Eu escrevia em manhãs chuvosas assim
Aguentei firme raios e trovoadas
Eu vi o poder em mãos erradas
Enganei a muitos, iludi a mim.
O prédio do INSS continua lá
Com a desbotada escadaria
E o lodo nas paredes externas
Ainda me deixa sem ar
Aquele trecho da subida,
Tremula minhas pernas
Ouço a missa do tempo
A garoar-me em ladainha,
Perpasso o hemocentro
Pela lateral de onde eu vinha
Defronte o fórum estadual,
Que frequentaria pouco mais tarde,
Durante o labor da advocacia
(já em dias velozes e ensolarados).
Marcho pelo terminal
Cujo ônibus me levava à faculdade
Na qual me graduaria
Incauto e engravatado.
A vista (da vida) é diferente -
E as memórias se enastram –
Quando caminho por Presidente
[Prudente...
Eu escrevia em manhãs chuvosas assim
Dor barata e infantil carregava em mim
Como presságio que viria de dias cruciantes
Sustentei (e fui sustentado) meu semblante
Lívido hoje como a fachada do prédio do
[seguro social
De onde escrevia naquelas manhãs cinzentas
Prometendo-lhe uma fuga musical
Pungido apenas por sua ausência.