Ouça você mesmo.(Elaine)

Ouça você mesmo.

Sabe, lá em casa ouvimos “The Cure”: “Just Like Haven”

e como se em outra língua o narrador conta uma história

que eu já conhecia, então fomos para cozinha, o lugar onde

a maioria das coisas acontecem. A porta de trás se abre para

o jardim, penso em pedir para você ficar, Elaine não vai agora,

então foi festa na cozinha até às quatro da manhã, da alquimia

da cozinha para o sofá da sala, “The Smiths”, coloca, “Heaven

Knows I'm Miserable Now”, ouço a voz do Morrissey, essa música

e bem cinematográfica, bom pretexto para uma briga de travesseiros

que leva ao primeiro beijo. Nossos sonhos transitam entre a música

e uma sonoridade nova e sem clichês, ouvimos sem ouví-la, o som

vem do CD, mas a melodia é nossa própria história, sentimentos

pessoais e intransferíveis que carregamos mundo a fora, e o sono

chega, você no sofá da sala e eu no chão segurando a sua mão, deixo

você dormir até mas tarde, enquanto preparo o seu café da manhã, e

ti acordo com um beijo às onze horas, você fala que tem que ir embora,

eu ti calo com um beijo, sabe aquela coisa do Punk, faça você mesmo.

Coloco Raça Negra, eu sei que você gosta, quem sabe você esqueça do

seu antigo namorado, e eu esqueça também da minha ex-namorada.

Sou um sobrevivente dos anos 80, éramos em todos os sentidos muito

superficiais, mas no fundo éramos profundos e fazíamos da música e

da poesia, um grito pela democracia e liberdade, e quanto ao amor, há

esse sempre fui profundo, quando amo não existem limites, não existem

barreiras intransponíveis, só existe a vontade de amar, e vontade e um

conjunto de desejos, de sonhos, de cumplicidade que são intransferíveis.

Digam o que dissserem o mal do século é a solidão, cada um de nós

imersos na sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição.

Só existe um remédio para solidão, amar alguém que te quer amar também.

Ricardodi Paula, 27/10/07. PM 12:15.