ROSA DE ÁLBION (PARANAPIACABA)
Ao longe, entre névoas, surge,
Na minha Saudade,
A Vila de Paranapiacaba.
Paranapiacaba,
Nevoento anglicismo a berrar
Nas selvas brasílicas!
Paranapiacaba,
Rosa de Álbion
Num píncaro de serra plantada!
Paranapiacaba,
Vilazinha vitoriana
Donde avisto, ao longe, o mar!
Paranapiacaba,
Brumoso símbolo
Da minha Melancolia!
Paranapiacaba, eis que me invade
Agora a saudade
De ti e do teu Mar de Névoas,
Do níveo, alabastrino nevoeiro
Que te encobria
No dia em que te vi primeiro,
No tempo em que a Nostalgia
Que eu sentia
Era toda do futuro
E em que toda a Melancolia
Que havia
Era aquela da tua brumal paisagem.
Paranapiacaba.
Paranapiacaba da velha ponte sobre um Mar de Névoas
Que ora cruzo na minha Saudade.
Parabapiacaba do velho relógio a emergir
Das ondas do “fog”
E a marcar, no meu coração,
Sempre a hora do crepúsculo.
Parabapiacaba da velha locomotiva
A me transportar, em sonho,
À Álbion dos dias d’antanho.
Paranapiacaba das cascatas e manacás em flor
A lembrar-me de que estou no Brasil.
Há pouco quis escrever um soneto
Que principiaria com a seguinte estrofe:
“Velho relógio inglês, pelo nevoeiro
Encoberto, marcando tristemente,
Neste meu coração, frio e certeiro,
A doce e merencória hora do poente.”
Interrompi, porém, a composição do soneto
Ao lembrar-me das perguntas
Que Alberto Caeiro em sonho me fez certa vez:
“Por que queres compor um verso igual ao outro?
Por acaso as árvores que vês à distância são todas iguais?”
“Quero que teus versos nasçam e cresçam livres,
Livres como os meus e como as árvores
E que voem livres como a cegonha
Que fez seu ninho na torre da igreja da minha aldeia”,
Disse-me mais tarde o poeta d’”O guardador de rebanhos”.
Paranapiacaba.
Ao longe, no Castelinho talvez,
Um violino chora
Uma melodia misteriosa
E seus lânguidos lamentos
Deixam ainda mais triste
A tarde sonolenta e calma.
Que melodia, que misteriosa melodia
Veio pungir minh’alma
E paira sobre as brumas e tremula ao vento,
Nostálgica e cheia de Melancolia,
Com seu lânguido e lento lamento?
Alma minha enevoada
E merencória,
Quantas das tuas paisagens
São paisagens de Paranapiacaba?
Alma minha enevoada,
Merencória e vária,
Quantas das ondas do Mar de Névoas
Que te banha
São ondas do Mar de Névoas
De Paranapiacaba?
Paranapiacaba,
Joia Britânica
Num cimo de serra incrustada,
Anglicismo a berrar
Nas selvas brasílicas,
Nevoenta Rosa de Álbion
Ancorada num Mar de Névoas
E no Mar de Névoas do Tempo!
Ao longe, entre névoas, desaparece
A Vila de Paranapiacaba.
Ao longe, entre névoas, desaparece
A Rosa de Álbion.
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Santo Amaro (São Paulo) e Paranapiacaba, 26 de dezembro de 2018.