FUTUROS
FUTUROS
Não sei se sou isto ou aquilo
Ou um ponto qualquer do caminho
Entre isto e aquilo,
Pedra ou árvore sem flor e sem fruto,
À beira da estrada que separa
O que foi e o que poderia ter sido
Do que deveria ter sido,
As minhas capacidades tão limitadas
Dos ilimitados sonhos que cultivei em criança
E continuo sonhando adulto,
Ainda que sem qualquer esperança
De ver sequer um deles realizado.
Ah! como dói meu peito ao recordar,
Em meio a este nevoeiro de gélida saudade,
Os lindos sonhos que acalentei
No tempo em que ainda não sabia
Que um profundo golfo separaria
O grande deserto do meu real futuro
Dos ledos bosques verdejantes
Do belo futuro que esperei na infância.
Temos todos dois futuros:
Aquele que esperamos na infância,
Numa dourada nuvem de fantasia,
E aquele que vem de fato
E que nunca é igual àquele que esperamos,
E que nunca é igual àquele
Que na alvorada de nossas vidas
Sonhamos que viria
E que alguns sonhadores como eu
Insistem em viver ao menos em sonho,
Num denso nevoeiro de nostalgia
Do que deveria ter sido.
Sinto agora uma funda
E pungente saudade
Do meu belo futuro que jamais veio
E tampouco virá,
De tudo o que deveria ter sido
Mas não foi e nunca será.
Lá fora a noite cai lentamente sobre a Montanha
E se acendem as primeiras luzes
No burgo serrano.
Cá dentro, na sala escura,
O nevoeiro de saudade do que deveria ter sido
Se faz mais denso
E vejo ao longe, como miragens,
Cenas da vida que eu deveria ter tido
No belo futuro que esperei em vão.
Victor Emanuel Vilela Barbuy, Campos do Jordão, 29 de julho de 2019.