No escuro
Sento-me no escuro,
busco meu coração,
é mais um dia duro,
esgotado em minha emoção,
ressinto um beijo ausente,
sem ti para me iluminar,
saudades de outro presente,
onde era possível sorrir e amar,
mas o céu tornou-se cinza,
tudo desapareceu vagarosamente,
tua voz e teu olhar ranzinza,
me sinto tão demente,
afogando-me em um mar profundo...
Sinto-me no escuro,
busco saber se estou vivo,
estou vazio e inseguro,
meu espírito tornou-se cativo,
em uma prisão invisível,
distante de teu perfume,
minha existência é impossível,
sem o voo do meu vagalume,
meu caminho é só saudade,
não há família e nenhum amigo,
se esvaiu toda a cumplicidade,
nesse desmemoriado museu antigo,
onde o amor se perdeu nas galerias...
Sussurro no escuro,
palavras secretas ao silêncio,
talvez seja o destino de um impuro,
procurando algum armistício,
perambulando em infinita guerra,
como um soldado sem pátria,
revertendo a rotação da terra,
nas rimas desencontradas dessa poesia,
com uma gota de esperança que sufoca,
me ilude como veneno no sangue,
mas há muito fizestes tua troca,
e não há nada que este inferno interior apazigue,
porque sem ti só há fragmentos meus soprados ao vento...