Avenida Mestra Fininha

Em uma dada cidade,

No norte de Minas,

Havia uma avenida,

Que percorria várias vidas.

Fui uma dessas,

Em meus passos ligeiros,

Avenida essa,

Que pegava passageiros.

Das grades verdes escuras,

Do rio que foi extinto,

De monstros e pessoas puras,

Eu vivi, eu sinto.

Avenida que compartilho histórias,

Em momentos de escórias,

Em momentos de glórias,

Nada de estórias.

Dias que foram para correr,

Outros que estava a morrer,

Sozinho ou acompanhado,

Sorrindo ou desolado.

Dias quando criança,

Acompanhando o pai nas caminhadas,

O homem tentando acabar com a pança,

E eu com pernas cansadas.

Vezes sozinho encontrar alguém,

Outras, que fui encontrado,

Vívidas ou do além,

Andando quando estava chateado.

Conversas e segredos,

Mortos pelos morcegos,

Árvores plantadas,

Almas laçadas.

Contando cada grade,

Ou vendo a tinta secar,

Quando chutava o balde,

Momentos para pensar.

A avenida sempre foi assim,

Passarela sem fim,

Para emagrecer ou para esvaecer,

Precisa caminhar para saber.

Dias de calor,

Dias chuvosos,

Falando de amor,

Escuro pavoroso.

Caminhadas a sós,

Ou com amigos preciosos,

Fazia-se nós,

Escondia-se ossos.

A avenida abarca acontecimentos,

A vida montesclarence,

Vontades ou arrependimentos,

Apenas pense.

Dias que andei até cansar,

Noites que em casa quase não cheguei,

Caminhadas que sorri mais que falar,

Que sangrava e que andei.

Contei amores,

Falei dores,

Para amigos e amigas,

De todas as falas.

Chuvas que dividi sombrinha,

Mão em volta da cintura,

Fugindo da chuva e molhando a mente,

Tornando o inverno mais quente.

Corridas desesperadas,

Pernas tão cansadas,

Quente pra uma madrugada,

Avenida que não acaba.

Quem conhece entende,

A centralidade de eventos,

Quem mora sente,

Todos os momentos.

Datas específicas,

Que as mãos falaram mais,

Que a boca saliente,

Olhar ardente.

Noites perfeitas,

Madrugadas terríveis,

Coisas ditas e feitas,

Machucados horríveis.

Do Ibituruna ao Parque Municipal,

Contos sem igual,

De animais e de gente,

Gente, nem tanto como a gente.

Sóbrio ou embriagado,

Atlético ou cansado,

Vivo ou semimorto,

Calçada de um homem morto.

Veem todas as memórias,

Celebrem seu passado,

Pois não voltará a alegria,

Do que ficou naquele rio fraco.

Tantos pecados, tanto amor,

Como pode ter tanta dor,

Numa grade verde,

Numa calçada cinza.

Das raízes mais profundas da cidade,

Que leva para todas as partes,

Essa Avenida me completa,

Como completei com minha história.

A avenida tem lembrança,

De toda roupa tirada,

Toda dança,

De pensar a mente cansa.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 30/09/2021
Reeditado em 30/09/2021
Código do texto: T7353290
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