Casa Verde do São Luís
Só de olhar o portão,
Sua cor não é musgo,
Não é limão,
Nem me ofusco.
A casa verde dessa rua abandonada,
Parece cor de pântano,
Não é clara como esmeralda,
Continua desbotando.
A casa que costumei ser criança,
Hoje moldo o adulto entristecido,
Sempre família, nunca dança,
Do coração mole, agora enrijecido.
Já foi uma casa engraçada,
Mas não como da rua dos tolos,
Hoje é uma casa desgraçada,
Jogada totalmente aos lobos.
Uma casa, verde tóxico,
Me corrói os sentimentos,
Pior que monóxido,
São venenos lentos.
Casa que me vesti,
Indo a bordo de um escolar,
Casa que menti,
Menti ao chamar de lar.
Casa com duas vagas de garagem,
Mas o único estacionado sou eu,
Queria só estar de passagem,
Mas onde o meu eu, viveu.
Aqui, enterrei amor,
Cultivei também,
Escondi com louvor,
Não me achei além.
Pelas vozes que já me chamaram,
Morando em família e sozinho,
Que vivem e que já faleceram,
Estão diminuindo.
Portas que abriram,
Por mãos frias,
Janelas que trancaram,
Pelo medo das quentes.
Estátuas que andam,
Me encarando sob a luz vermelha,
Pelos seus segredos chamam,
Um diabo sem centelha.
Por bebidas e comidas,
Alcóolicas e gordurosas,
E pessoas findas,
Por todas as prosas.
Esvanecem na mente,
Por gritos e desrespeitos,
Gente como a gente,
Por todos os leitos.
Leitos em cama, apenas eu,
Leitos em pernas,
Pela tábua que cedeu,
Choros e caras sérias.
Gritos sem vizinhos,
Salivas altruístas,
Vezes sozinhos,
Corpos artistas.
Casa que me deu sabores,
Provei de cores,
Mas acaba num único meio,
Comigo escrevendo,
Cheio de receio.
Pelos corredores que dormi,
Vezes que fui expulso,
Avenida Sanitária que ruí,
Vezes que chequei meu pulso.
Lágrimas nos chãos e banheiros,
Amigos que brindei,
Sorrisos com companheiros,
Vezes que brinquei.
Tudo, enraizado,
Me levaram para um fim,
Me vi sentado,
Tardando sem ninguém a mim.
A casa verde do São Luís,
Em que abitou corpo e alma,
Única do país,
Que saboreia minha calma.
Quando triste, relembro,
Das memórias e onde estou,
A falta de cada membro,
Sozinho, eu vou.