O INTRUSO

A moto entrou na rua, chamando atenção de todos

Com aquele garupeiro de mãos jogadas para o ar

Dando gargalhadas.

Usava umas roupas coloridas, boné preso à cabeça.

Parecia um palhaço em um picadeiro de um grande circo

Ao término de uma grande apresentação:

Sem máscara,

Sem pintura,

Só um grande sorriso estampado no rosto.

Os passantes observavam abismados, aquela figura tosca

E os moradores saiam para as calçadas para observar

Com certa estranheza, aquela esquisitice.

Um cachorro que dormia tranquilamente na calçada,

Sentiu-se incomodado

E passou a perseguir os intrusos.

Outros cachorros alvoroçados

Saíram de dentro das casas

Repetindo o exemplo do camarada dorminhoco.

O motoqueiro deu meia volta no final da rua

E os dois seguiram numa camada espessa de poeira

Como se ele, o intruso, estivesse recordando sua infância

Nos bairros da periferia

E os guardiões da rua acompanharam-lhe

Como se quisessem expulsá-lo para sempre.