Saudade
É aquela falta
Que rasga o peito.
É, também, um vazio
Do que veio
E se foi no tempo.
É, no fundo, a recusa
Do sim.
É palavra que não dá conta
De si.
Só entende a saudade
Quem a sente.
Arrisco a dizer
Que a saudade é maior
Pois não se vê.
É a inescapável afetação.
Ela é súbita.
Forte.
Veloz.
Um grito sísmico
Que abala sem admitir.
Faz o mundo ruir
E o que batia
Parar de bater
Ainda que por um instante.
Faz rir sem qualquer controle.
Faz chorar pelas dores
- tantas…
A saudade é um cheiro do corpo
Do perfume das rosas.
É um olhar refletido nos detalhes
Mais nobres
Como o coração invisível
E imensamente sensível.
A saudade é vento gelado
Que balança cada fio
De cabelo
E traz o ar quente:
A presença do amado.
A saudade é, também, o repouso
Depois de um cansaço doloroso
Ao lutar contra ela própria.
Uma luta interminável
Que o tempo amansa
Mas não cessa.
A saudade não se faz sem partidas.
Para nascer, ela precisa morrer.
Só se faz existir acompanhada.
A saudade ecoa
Em quem sorri calado
Em quem sofre disfarçado
Por um amor gigante
Agora ausente.
Saudade é sentimento
Que vai
Aonde não se sabe.
Em distância
Em espaço
Em pulsão.
A saudade é uma música
Que nunca para
De tocar.
A saudade é poesia
Difícil de ser lida.
Essa saudade
É do grão
Que faz a vida.
A saudade é de mim
E da gente.