Agridoce
Em noites de frio como essa abraço-me em profundo carinho.
Mas olhe, me faço de morada também, não fique aí na chuva, eu tenho calor para você.
Tire os sapatos, descanse aqui, olhe com ternura este meu afeto.
Ele pode ser inteiro seu, pode até ser o seu lar.
Mas se entrar, veja bem que eu sangro feito rio em tempo chuvoso,
Ultrapasso
meus limites
Refaço meu corpo, cansado,
me transformo em alma, frágil,
me ponho em teu colo, cuidado.
Sou gigante também, uma estante cheia peças de porcelana.
E se estilhaço reconstruo uma fortaleza com os pedaços. Mas o que é esse cheiro, doce? tem forma de gente, olhos e coração.
Me estremeceu.
Mas calma, não vá tão cedo, acabaste de chegar.
Eu até preparei os discos e o colchão na sala para que pudesse ficar...
Ah, veja, o vento levou.
É que você esqueceu suas janelas abertas.