finados
eu não visito seu túmulo
não lhe compro flores
mas se comprasse seriam lírios
lírios brancos,
copo de leite
recordo ainda seu
fascínio pelo branco
aonde quer que você esteja
você deve saber que lhe
tive amor e respeito
e quando você partiu
um deserto se instaurou
em minha vida
secaram as seivas das árvores,
secaram os rios que correm pro mar,
secaram as águas da chuva,
e, aqui nessa seca densa
nem as lágrimas brotaram.
aonde quer que seu espírito vagueia
peço perdão todos os dias
por não ter feito o que me pediste...
peço para aprender a perdoar
mas as feridas e cicatrizes não me deixam
começam a latejar
a estranhar o corpo, a dádiva
o pão malhado e curtido
nunca mais visitei seu túmulo
depois que ganhaste companhia
não sei se a relva lhe cobre a lápide
se seu nome está apagado ou avivado
se a estrela de davi está limpa e briosa
se o campo é realmente santo
e, nos redime da culpa da vida
e da culpa da morte
morreste em paz?
sinceramente , não sei.
seu último suspiro,
foi um adeus à tudo?
conseguiste?
voltarás a viver outras vidas
e mais vidas terás a perder novamente?
tantas perguntas,
tantas dúvidas,
tantos receios
e quando chega o momento final
o que há sobre nós é uma lápide
fria, carregando nosso nome,
como se fosse uma sina
há deus lá em cima, atrás das nuvens
há uma crença em nossos corações,
acima de nossas cabeças
tantos ouros,
tantos luxos
critérios de higiene,
rapapés, títulos acadêmicos
prêmios internacionais,
nacionais
expressões estéticas
e, tudo se resume dentro
de um caixão estreito,
de madeira barata, de pregos ateus
que não prendem nada,
que não contém nada,
senão um corpo vazio de alma
no dia dos mortos
os vivos se movimentam
e, os mortos ganham vida
em suas lembranças.
quanta saudade há nas flores
quantos poemas foram sepultados
para atingirem a eternidade