Longe de ti no tempo

Do ranger de uma porta

que há muito não era aberta

o temor de uma lembrança

e um mergulho de volta incerta

na parede, o relógio parado

sobre a mesa, os sonhos de outrora

o calendário intocado, não mente

nossa única data era o aqui e o agora

tudo está do mesmo jeito

nada foi tirado do lugar

tive pena de esvaziar a sala

já que você também está lá

não você, mas uma farsa

que inventei pra pôr em seu lugar

talvez pro cômodo não parecer vazio

ou pela esperança de ainda te ver voltar

mesmo coberto pela poeira

tudo parece vivo, ainda morno

consigo ver nossos livros, nossa lareira

e as plantas moribundas que ainda servem de adorno

ainda te vejo na janela

ainda sirvo café pra dois

ainda sigo tendo fé no agora

pelo puro desprezo do que vem depois

pois vivo preso ao passado

quando você estava por aqui

vivo preso nas nossas promessas

que te fiz sem ter tempo de cumprir

tempo, força, fibra

muito me falta, sempre me faltou

me perdi nas estações, voou o tempo

eu continuo sendo o mesmo, nada mudou

será que você ainda é o mesmo também?

ou partiu sem mim justamente por não ser?

eu me pergunto enquanto abro as janelas

pra ver o céu anunciar que ainda há de chover

nas noites frias, sem silêncio

quando só martela ao peito o desejo de chorar

eu volto até aqui, para lembrar daqueles momentos

em que me você me fez sorrir, só com o seu olhar

Um Boldo
Enviado por Um Boldo em 03/06/2021
Código do texto: T7270595
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