Nostalgia
Nostalgia é saudade?
Não! Nostalgia é um tempo que nunca existiu.
Recriado em nossa memória de forma ideal.
É beleza impossível e por isto é tão bela.
É saudade do que não aconteceu,
É lembrança do que parece ser futuro.
É mistura de uma alegria que é promessa,
Misturada a suave tristeza fugitiva da saudade.
Mas saudade de que? Saudade de não sermos.
Porque ser parece por vezes ser tão custoso.
Ser é toda a dádiva e todo o incômodo da vida.
Mas como não abrir os braços ao mundo,
E ao invés de soltar um grito, guardar-se em silêncio.
Não um silêncio mórbido, mas uma quietude respeitosa.
De tudo que somos,
Parece que o pouco de ser está em uma gota de dignidade.
E dignidade não é orgulho, mas antes resignação.
Por isto que hoje vejo o quanto de ignorância há em nós,
Por isto reconheço o quão pequenos somos.
Titãs de carne osso, estátuas de sal, quem somos nós enfim?
Tanto já quis saber, mas hoje desconhecer parece consolo.
Somos fugazes sentimentos, fragmentos de razão,
Cacos de cristais preciosos jogados ao chão.
Precisamos de tanto para nos reconhecer como tão pouco.
Precisamos de tanto precisar,
Para descobrir que não precisar é o que nos liberta.
Toda a guerra perde seu sentido
Ante um momento de paz verdadeira.
E eu que tanto quero,
Convido minha vontade para aquietar-se,
Curvo-me não em crença, mas em fé,
E duvido, e na dúvida me encontro com o Todo.
E o Todo nada me diz, mas parece que eu entendo.
Gilberto Brandão Marcon
20/03/2021