Maternalmente
Acordei inebriado pelo cheiro do café.
Esse é diferente, não senti igual. Sentir...
Respirei saudade.
Por segundos a voz, o calor do abraço.
Entre calores e aromas, ela se fez saudade.
Era um sonho, sintoma da falta.
Saudade é emoção que recorda a importância.
É o efeito da causa da falta do que é bom.
A saudade me faz buscar alguma forma de encontrá-la.
Procuro-a nas ervas, sou feito delas.
E entre panelas, me faço experimentos,
exageros e descobertas.
Mas, jamais cheguei ao patamar dela.
O modo dela usá-las é único, com cuidado.
E sobre cuidar, ela o faz exaustivamente.
Sem pretensão de romantizar,
nessas lembranças a materializo hoje.
Reescrevo incessantemente o lugar dela,
na minha história, nas minhas lembranças,
na minha carne. São os efeitos da saudade
Hoje queria abraçá-la. Olhar seus olhos,
e tentar dar corpo ao que me atravessa,
através de palavras, encadeada por silêncios.
“Quais os seus sonhos?”, nunca a indaguei.
Hoje, gostaria de sentir seu olhar,
no instante em que a indagasse.
Não sei os reais sonhos dela,
O que ela queira da vida na minha idade.
O que ela pensava quando criança,
Sobre o futuro, a vida, os sonhos.
Sou resultado dos sonhos que ela deixou de sonhar,
E dos que ela construiu para colocar no lugar.
Quanto tempo há?
O in-suficiente para dar corpo ao que pulsa,
Ao que me faz ser o que sou hoje.
É lindo o jeito que ela espera na porta,
com o sorriso no rosto,
o brilho nos olhos, singularmente dela,
esperando-me descer da van,
ir ao lócus do eterno retorno,
do espaço do encontro,
entre pretéritos, presentes e futuros,
indefinidos, infinitos, definidos e in-certos.